Palavra estratégica que vem sempre a propósito quando se quer justificar uma obra que não vale nada. É também prudente usá-la junto com outros adjetivos como radical, experimental, novo, inovador, transgressor ou de ruptura. Assim passa a impressão para o leitor que você compartilha com ele da mesma boa alma ciosa pela fraternidade social e pela transformação artística e cultural, ainda que, destacados esses aspectos meramente externos e circunstanciais, sua obra seja um mais do que consumado lixo, e sua concepção dos fenômenos infinitos que dão forma a isso que chamamos vida seja tão rudimentar quanto a do mais ignorante dos ignorantes.
É aconselhável também o uso dessa palavra aliada ao nome de algum epígono ou alguma dessas figuras folclóricas e desgastadas da nossa modernidade. Isso a reveste de um certo tom de compromisso e de autoridade, ainda mais se dita com aquele jeito másculo de quem encara a vida como um ringue – embora o traço mais costumeiro que caracteriza os defensores árduos da invenção seja o da vítima, e para continuar cativando a atenção do público precisem o tempo todo mostrar que apanham de um mundo corrompido e desumano. Em suma, são resistentes. A que, para quê, por quê e com que fim ainda é um mistério.
No Brasil há uma fauna bastante desenvolvida de animais pródigos em lançá-la (a invenção) diariamente na mídia sem peias nem papas na língua. Os psicanalistas dizem que é um sintoma coletivo de complexo de inferioridade e um tipo de autismo edipiano; os sociólogos dizem que é um fetiche tecnocrata, próprio de países subdesenvolvidos; os filósofos, que se trata de uma carência ontológica e de uma deformação na capacidade de formar conceitos abstratos, relativa à subnutrição cultural e às deficiências de formação intelectual, e cuja conseqüência mais imediata é a polarização da realidade em progressistas e regressistas, os olhos vidrados e os lábios espumantes. Já os artistas não pensam nada, já que essa não é sua função e são eles próprios que compõem aquela grande parcela da população que repete, ora como papagaio ora como uma cascata de ecos, tudo aquilo que o inventor disse que inventou. Ou seja, aquilo que o primeiro idiota que tenham à mão e lhes venha à mente disse nas últimas duas décadas.
Há controvérsias entre os cientistas. Uns dizem que o número de inventores já diminuiu drasticamente. Outros, que todos os dias aparece uma nova arte ou novo conceito de invenção que, para a nossa desgraça, vem invariavelmente seguido de um inventor, como os asnos vêm atrás do cacho de uvas que lançamos à frente com uma varinha para fazer mover a carroça. Seus argumentos são bastante plausíveis.