segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Desde a fonte originária - Foed Castro Chamma



Há uma trágica intenção em apresentar-se individualmente como ser-e-estar na linguagem desde a fonte originária, à qual se associa e reage com espanto e discernimento. Alfredo Fressia quase esgota o que se poderia acrescentar da poesia de Rodrigo Petronio que os títulos antecipam e revelam. O que me parece generoso é a constatação, que me leva à Nova Jerusalém de Swedenborg, onde a regeneração dos anjos está na alquimia da linguagem como transformação do homem, segundo a visão antevista por Orfeu.
Na transgressão de seus versos, Rodrigo Petronio produz uma radicalização da simbólica mítica paralela ao discurso da razão. A constatação está além do teosofismo de Fernando Pessoa. Lembra Trakl e Attar. A dissecação da verticalidade nesse delírio abissal de Venho de um país selvagem configura por outro lado um lastro simbólico do mito que vem a se constituir no ser da linguagem. Leio: “Eu sou o Outro que me habita”.
A transfiguração do Autor no retrato da primeira capa confunde-se com a imagem de Jesus Cristo. A grandeza do poema “Astarte” completando o conjunto justifica o importante prêmio que o livro recebeu. Impressiona como Venho de um país selvagem nos passa o oratório universal do Padre Nosso. Sua abordagem inventiva tem em Hölderlin remanescente histórico em relação a Goethe, visto do ponto de vista da Semelhança. O realismo de Drummond e a inventividade dialetal de Guimarães Rosa estão nesse mesmo diapasão contendo o holocausto de Venho de um país selvagem.