domingo, 29 de novembro de 2009

ENTREVISTA PARA EDSON CRUZ - CRONÓPIOS


1) O que é poesia para você?

Em uma entrevista recente, Yves Bonnefoy diz que, quando era jovem, responderia a essa pergunta longamente. Hoje, preferiria o silêncio. Entre a resposta e o quase-silêncio, vejo a poesia como o lado terrível da inocência. Penso nela como uma busca obsessiva de superar toda a contingência. Por isso, a poesia atravessa os limites do instituído até quebrar os seus diques. Essa é sua proximidade essencial com a loucura. O olhar radicalmente inocente é o olhar que se vê e vê tudo de fora. O poeta ama o mundo na mesma proporção em que se sente completamente alheio a ele. Esse paradoxo funda a poesia. É a emoção poética mesma.

2) O que um iniciante no fazer poético deve perseguir e de que maneira?

Ele deve escrever para a poesia, nunca para o poema, para o público ou para si mesmo. Essa é uma maneira de atingir outro lado da vida e da linguagem. Para isso, é preciso fazer a travessia. Mas isso não é possível explicar. Eu mesmo sinto que apenas comecei a minha.

3) Cite-nos 3 poetas e 3 textos referenciais para seu trabalho poético. Por que estas escolhas?

Pensando na poesia mais recente, ou seja, do último século e meio, em vez de três poetas e três textos, prefiro mencionar três famílias de poetas que admiro. Em primeiro lugar, penso nos órficos, nos poetas da Iniciação, acima de tudo Rilke. Em segundo, nos poetas da Terra: Saint-John Perse, Herberto Helder, Rimbaud, Whitman, Lorca. E em terceiro, nos poetas do Negativo: Trakl, Benn, Celan, Bernhardt, Pessoa. Esse tem sido meu alimento nos últimos anos. Sinto que grande parte do meu interesse pela poesia está em autores dessas naturezas.