domingo, 29 de novembro de 2009

ÍMÃ


A pedra ímã é um dos minerais mais curiosos que conhecemos na Terra. Por sua força magnética de atração de contrários ficou famosa já na Antiguidade, e serviu a muitos instrumentos fundamentais para a orientação humana no espaço e à composição de engenhocas de toda sorte. Boa parte da empresa de navegação do século XV e XVI se viria em dificuldades sem o auxílio de uma simples bússola, por exemplo. O filósofo Empédocles, procedente da cidade de Agrigento, provavelmente tenha se inspirado em um ímã para conceber suas idéias de filia e neikós, de amizade e ódio, que segundo ele seriam as forças motrizes de todo o universo e dos afetos e humores de todos os seres vivos. Por sua vez, Newton se inspirou nas adaptações que a tradição hermética e a alquimia fizeram das idéias de Empédocles para forjar o seu conceito de força gravitacional, cujos fundamentos são a atração e a repulsão, e assim criar a pedra-de-toque da mecânica clássica. A história da maçã é meramente folclórica e anedótica.
Sabemos que a maior parte da biblioteca de Newton era composta de livros de magia, de ciência hermética, religião e filosofia. A física era um acidente bem quisto de percurso ao qual o autor dos Principia acabou fazendo convergir a multiplicidade de seus interesses metafísicos. Ele fundou as bases de nossa compreensão do Universo, e depois o século XX se encarregou de aprofundar e dar mais complexidade a essa alavanca inicial com a qual esse homem exemplar moveu o eixo do mundo. Voltaire descreve-o como uma das almas mais nobres e finas que já conhecera. Hoje os conceitos de amor e ódio praticamente se reduziram às funções biológicas, e o misticismo freqüenta as bancas de jornais sob as formas mais deprimentes que jamais alguém imaginou. Um ímã é apenas um ímã quando a imaginação se empobreceu a ponto de não ver mais nenhuma beleza na unidade cósmica e o entendimento sequer consegue cogitá-la na fatura dos objetos corriqueiros. E alguns ateus ignorantes ainda acham isso um grande progresso.